Fotos [Photos]: DUOCU
[Porto Alegre, RS]
Inspirada no conceito de ‘ouroboros’ – a serpente que come o próprio rabo – a fotografia Anculheta estabelece diálogo com a ideia da ampulheta, instrumento utilizado para medir o tempo. Na foto, observamos o casal de artistas em conexão através do contato corporal, que se dá tanto pelo toque entre cabeça e pés, como também a sutil troca da dedada anal.
Corpo a corpo, o toque na pele demonstra a relação existente entre ambos. O tempo pode ser observado na imensidão do fundo escuro que abriga a dança estática que o círculo abstrato das corpas formam, fato que nos remete às sugestões que estão nas entrelinhas do que representa o ouroboros, ou seja, a posição das corpas nos possibilita pensar no contínuo fluxo de desconstrução e reconstrução em que nossas existências se encontram, transbordando saberes e desejos.
Anculheta pode revelar-se como uma reconfiguração da transitoriedade das corpas que ao se desprenderem do tempo estão livres, permitindo-se tocar e ser tocada. O silêncio se faz presente pelo teor quase mórbido da fotografia, que se alimenta – como ouroboros – de seu tétrico estado para dizer exatamente o oposto: estas corpas estão vivas, tocam-se, buscam em si e no outro o respiro tátil da vida.